sábado, 28 de abril de 2012
O incrível caso do homem que substituiu o coração por um de papel e plástico.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Dividindo-se
Trancou-se
no banheiro e deixou jorrar o pranto. As paredes, suas únicas testemunhas,
refletiam o som abafado de seu gemido. Ele tentava se recompor, mas não havia
jeito de controlar toda aquela emoção. Do nada, esmurrou a parede com força sem
se quer sentir dor. O ódio lhe roía as entranhas e por pouco não foi ao
encontro de seu algoz. Passado alguns instantes, sentado com a cabeça entre as pernas,
sentiu-se mais sereno. Respirou profundamente e aos poucos foi recuperando o
equilíbrio. Enxugou as lágrimas, lavou o rosto e ficou ali em frente ao
espelho. Repentinamente lhe veio uma vontade estranha de conversar com seu
reflexo.
-
É meu caro, você está chegando ao fim da linha. Não tem mais para onde correr.
É preciso tomar uma atitude e mudar tudo a sua volta.
E
após um longo “diálogo”, teve a sensação de sentir-se dividido em dois. Era
como se fossem dois Cristianos. Por fim chegou à conclusão que um deles precisava
descansar e sair de cena, o outro, cheio de energia, sem passado algum e sem perspectiva
alguma assumiria o posto.
E
a partir daquele momento, quaisquer críticas, desaforos e agressões sofridas,
eram sumariamente destinados ao Cristiano um. Ele, o dois, não tinha
absolutamente nada com aquilo e como estava apenas de passagem, estava adorando
toda aquela novidade. Como não havia um passado, o Cristiano dois era mais
leve, enxergava tudo colorido, era tudo tão novo, tão surpreendente que ele não
entendia como o Cristiano um encontrava tantas dificuldades em viver bem.
Mas
a melhor parte era ver o Sr. Mário, seu algoz, que tinha como prazer humilhá-lo
preferencialmente em público, ficar com aquela cara de interrogação ao ver que
sua vítima não o levava mais a sério. O Cristiano dois até se divertia com tudo
aquilo.
Mas
um certo dia, o Sr. Mário conseguiu se superar e eis que adentra abruptamente
no banheiro o Cristiano dois e em frente ao espelho e clama desesperadamente
pelo três.
sábado, 7 de abril de 2012
A esperança é a última que morre.
Olhou-se no espelho do banheiro e percebeu um vinco em sua testa. As olheiras estavam bem destacadas e suas pupilas baixas davam à sua face um ar de alguém que desistira de viver. Pensou em voltar para a cama, mas logo mudou da ideia. Resignadamente abriu o guarda roupas e começou a se vestir. Dirigiu-se até a cozinha e serviu-se do café frio do dia anterior enquanto observava pacificamente seu fogão coberto por uma mistura de óleo com farinha de trigo. Por optar em usar pratos e talheres descartáveis, não havia louças sujas. Quando abriu a porta que dava para o quintal, surpreendeu-se com que viu. Suas plantas estavam secas e haviam muitas folhas caídas pelo chão. Mas o que o chocou, foi ver seu cachorro que estava totalmente esquelético e que de tão fraco nem se quer foi capaz de levantar-se para dar seus típicos pulinhos de alegria. Além disso, seu quintal estava repleto de fezes do seu cão e o odor delas provocava tamanha ânsia, que ele conseguiu vomitar apenas a bile, graças a seu estômago vazio. Sentiu-se tomado por um enorme desgosto, mas ao mesmo tempo, percebeu que ele não era assim tão inútil como muitos diziam. Suas plantas e seu cão dependiam dele para viver. Pensando assim, saiu pelas ruas pisando firme e cheio de dignidade, em busca de uma boa ração para seu cão.