O recinto estava mais cheio do
que ele presumia. A banda ganhara enorme notoriedade. Não só os quatro
integrantes, mas toda a equipe técnica estava mergulhada na mais pura
adrenalina. Respirou fundo, regulou a altura do banquinho, testou o bumbo e ao
posicionar os pratos, notou para seu desalento que ela fazia parte da plateia.
O ódio somou-se a adrenalina o deixando aturdido.
- Cássio, você está bem? – perguntou
Rodrigo já com seu baixo afinado.
- Acho que sim – respondeu Cássio
sem confiança.
- Se embora então arrebentar com esse show!
- Demorou!
Cássio vendo seu Roadie no palco,
perguntou:
- Você trouxe meu par de baquetas
reserva?
-
Putz, me esqueci!
Um Cássio embrutecido emergiu repentinamente
para espanto de todos ali presentes no placo.
- Incompetente miserável, vamos
conversar ao final do show.
Voltou a olhar a figura que tanto
lhe perturbava o juízo. Ela o encarava insistentemente.
- Que merda eu fui inventar –
Murmurava ele.
- Maldita bebedeira, perdi
completamente o bom senso. Me deitar com uma mulher trinta anos mais velha do
que eu. Agora me persegue para todo o canto que vou. Ela ainda vai botar tudo a perder com meu
relacionamento.
- Um, dois, testando, som, Esta
joia! Todos a postos? – Perguntou o vocalista.
Ao afirmarem que sim, deu início
ao show que estaria repleto de clássicos do rock progressivo. Bem, estaria, pois
na execução da primeira música uma das baquetas de Cássio escapou de sua mão de
forma inexplicável, haja vista que o mesmo não estava tocando uma frase
difícil. Transtornado e sem saber como proceder, levantou imediatamente da bateria
e com um chute a esparramou a frente do palco. Em seguida, saiu em disparada em
direção ao público e agarrado aos cabelos da distinta senhora a colocou para
fora da casa aos berros:
- Me deixe em paz velha vadia,
aquela foi apenas uma noite, nunca mais ocorrerá de novo! Nunca mais, nunca
mais, nunca mais.
Sua voz foi perdendo a força, ele
soltou o cabelo da senhora e sentou na calçada com os olhos esbugalhados e a
boca semiaberta, perplexo com a cagada que fizera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário