quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Sem recompensa
Com a lata de concreto sobre o
ombro já todo dilacerado, Ângelo só pensava no fim daquele duro expediente. O
que o consolava era saber que Michel havia comprado algumas peças da melhor
picanha da região e o churrasco prometia. Isso fez com que ele ignorasse
momentaneamente a dor e o cansaço. Ao contrário de Ângelo, os quinze homens ali
presentes trabalhavam com afinco e não demonstravam nenhum sinal de fadiga ou
contrariedade. Faltavam poucos metros para o enchimento da laje e algumas latas
de cervejas começaram a surgir. Ângelo de cima da laje pediu logo a sua e
Michel que estava embaixo prontamente o atendeu, arremessando a lata de cerveja
para o alto. Ângelo nas pontas dos dedos dos pés até que tentou agarrá-la, mas
acabou por curva-se demais para frente e despencou como uma jaca podre sobre a
calçada.
Com o braço direto fraturado e duas costelas
trincadas, Ângelo degustava sem vontade a comida do Hospital. Já na obra... a
picanha comia solto.
sábado, 19 de novembro de 2016
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
terça-feira, 11 de outubro de 2016
A pipa
- Segure a lata de linha filho. A
pipa já está no alto.
- Nossa, pai, ela puxa forte!
- É que o vento está bom.
- Pai, olha, está vindo outra
pipa perto da minha.
-
Rápido, me devolva a linha!
- Ah, tarde demais! Fomos
cortados.
De repente o garoto descambou a
chorar. Na esquina da rua, gritaria e risadas. O pai constrangido pegou o filho
pelo braço e resolveu ir embora. Ao passarem pela garotada, observaram que
havia um adulto debochando e isso encolerizou mais ainda o menino. O pai tentou
contemporizar e o filho respondeu:
- Nossa, como você é bundão, pai!
Que vergonha ser filho de um frouxo!
Ao entrarem no carro, o filho
notou o semblante sereno e inalterado do pai, que suavemente engatou a marcha e
saiu vagarosamente em direção aos seus algozes. De repente, pé em baixo,
velocímetro que dispara e ...
- Pai o que você fez?
Quem é frouxo agora, moleque?
A ponto de suicídio
Nada mais faz sentido, pensou
ele. Em pé no ponto, aguardava ansiosamente pelo ônibus que possivelmente
passaria direto por estar lotado. Essa seria sua chance. Jogar-se-ia em frente
do mesmo sem pestanejar. De repente, avistou o coletivo que devido à alta
velocidade que vinha, estaria abarrotado de passageiros. Com as pernas bambas e
a camisa empapada de suor, posicionou-se a frente de todos e quando já arqueava
o corpo para seu último mergulho, repentinamente mudou de ideia. Voltou resoluto
para de trás de todos ali presentes, comprou um copo de água e enquanto se
refrescava, tomou a decisão de se dar uma nova chance. Que a partir daquele
momento, deixaria de levar a vida tão a sério. E finalmente ligou o foda-se.
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
domingo, 14 de agosto de 2016
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
O triunfo
Arrancou velozmente pela lateral
direita e se pôs em condições de receber o passe. Era sem dúvida seu grande
momento na partida. A bola veio lentamente em sua direção. Era só encher o pé e
correr para o abraço. Na plateia, sua grande paixão assistia ao jogo sem maior
interesse e aquele era o momento de chamar sua atenção. Ele escolheu o canto e
chutou com toda sua força. Foi um chute espetacular, mas no vácuo. Com isso, seu
pé de apoio não suportou a pressão e seu corpo sucumbiu chocando-se estupidamente
na quadra. Sua cabeça foi a última a bater no solo, ocasionando um eco abafado
que propagou-se por todo o recinto. Estirado ao chão, virou a cabeça para o
lado e avistou a garota com cara de pânico. E um jato de sangue de emergiu
violentamente de sua boca.
Dia dos namorados.
Arremessou o dado para cima. Se
desse par ligaria para ela. Se desse ímpar estaria livre desse calvário. O dado
caiu velozmente sobre a mesa de vidro e rodopiou até que enfim parou com a
quadra virada para cima. Socou a mesa com ferocidade, praguejou em italiano e
retirou o telefone do gancho. Com os dedos afoitos discou o número e aguardou a
chamada. Estava ofegante e muito tenso. Sua coluna parecia que iria se partir.
De repente, a chamada foi interrompida e uma voz suave, subitamente emergiu:
— Alô.
Ele ficou ali prostrado em
absoluto silêncio. Repentinamente, desligou
o telefone, engoliu o dado e destruiu todo seu apartamento.
Banquete.
Agarrou o sanduíche com as mãos
sôfregas e o levou ferozmente à boca. Sua mordida consumiu metade do sanduíche
que ficou a rolar para lá e para cá dentro da boca semi- aberta, que mais
lembrava uma máquina de lavar. Em seguida, bebericou o refrigerante, mas parte desse
escorreu pelo peito. Devolveu o copo a mesa e quase o tombou. Ajeitou-se na
cadeira e olhou a sua volta. Todos ali presentes na praça de alimentação a
fitavam com espanto. Deu de ombros e concentrou-se novamente em seu banquete,
afinal, não era todo dia que aquilo ocorria.
quarta-feira, 8 de junho de 2016
terça-feira, 3 de maio de 2016
Frieza
Aquele ronco era inconfundível. Era raro alguém ainda ter um carro que possuía escapamento de puma. Aquela fora a terceira vez que Ana passava pela rua onde moro. Dei de ombros e relaxei. Ela havia de se conformar. Tudo já estava esclarecido e o fim de nosso relacionamento era fato consumado.
Passado uma hora, percebi
novamente sua aproximação. Subitamente, minha paciência se esvaiu e fui até o
portão a fim de dar uma basta na situação. No trajeto, ouvi um estrondo
medonho. Corri e ao chegar ao portão, presenciei a cena que ficaria para sempre
em minha memória. Ana havia colidido de frente com um caminhão. Fiquei
paralisado, enquanto observava sua cabeça pendida para o lado, completamente
imóvel. Seu rosto estava pálido e seus olhos esbugalhados. Em seguida, a
vizinhança ligou para a emergência e concentraram-se em volta do acidente. Ouvi
alguém gritar que ela não tinha os sinais vitais.
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