segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Sem recompensa


Com a lata de concreto sobre o ombro já todo dilacerado, Ângelo só pensava no fim daquele duro expediente. O que o consolava era saber que Michel havia comprado algumas peças da melhor picanha da região e o churrasco prometia. Isso fez com que ele ignorasse momentaneamente a dor e o cansaço. Ao contrário de Ângelo, os quinze homens ali presentes trabalhavam com afinco e não demonstravam nenhum sinal de fadiga ou contrariedade. Faltavam poucos metros para o enchimento da laje e algumas latas de cervejas começaram a surgir. Ângelo de cima da laje pediu logo a sua e Michel que estava embaixo prontamente o atendeu, arremessando a lata de cerveja para o alto. Ângelo nas pontas dos dedos dos pés até que tentou agarrá-la, mas acabou por curva-se demais para frente e despencou como uma jaca podre sobre a calçada.
Com o braço direto fraturado e duas costelas trincadas, Ângelo degustava sem vontade a comida do Hospital. Já na obra... a picanha comia solto.