segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Sem recompensa


Com a lata de concreto sobre o ombro já todo dilacerado, Ângelo só pensava no fim daquele duro expediente. O que o consolava era saber que Michel havia comprado algumas peças da melhor picanha da região e o churrasco prometia. Isso fez com que ele ignorasse momentaneamente a dor e o cansaço. Ao contrário de Ângelo, os quinze homens ali presentes trabalhavam com afinco e não demonstravam nenhum sinal de fadiga ou contrariedade. Faltavam poucos metros para o enchimento da laje e algumas latas de cervejas começaram a surgir. Ângelo de cima da laje pediu logo a sua e Michel que estava embaixo prontamente o atendeu, arremessando a lata de cerveja para o alto. Ângelo nas pontas dos dedos dos pés até que tentou agarrá-la, mas acabou por curva-se demais para frente e despencou como uma jaca podre sobre a calçada.
Com o braço direto fraturado e duas costelas trincadas, Ângelo degustava sem vontade a comida do Hospital. Já na obra... a picanha comia solto.       

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A pipa

- Segure a lata de linha filho. A pipa já está no alto.
 - Nossa, pai, ela puxa forte!
- É que o vento está bom.
- Pai, olha, está vindo outra pipa perto da minha.
-  Rápido, me devolva a linha!
- Ah, tarde demais! Fomos cortados.
De repente o garoto descambou a chorar. Na esquina da rua, gritaria e risadas. O pai constrangido pegou o filho pelo braço e resolveu ir embora. Ao passarem pela garotada, observaram que havia um adulto debochando e isso encolerizou mais ainda o menino. O pai tentou contemporizar e o filho respondeu:
- Nossa, como você é bundão, pai! Que vergonha ser filho de um frouxo!
Ao entrarem no carro, o filho notou o semblante sereno e inalterado do pai, que suavemente engatou a marcha e saiu vagarosamente em direção aos seus algozes. De repente, pé em baixo, velocímetro que dispara e ...
 - Pai o que você fez?

Quem é frouxo agora, moleque? 

A ponto de suicídio

Nada mais faz sentido, pensou ele. Em pé no ponto, aguardava ansiosamente pelo ônibus que possivelmente passaria direto por estar lotado. Essa seria sua chance. Jogar-se-ia em frente do mesmo sem pestanejar. De repente, avistou o coletivo que devido à alta velocidade que vinha, estaria abarrotado de passageiros. Com as pernas bambas e a camisa empapada de suor, posicionou-se a frente de todos e quando já arqueava o corpo para seu último mergulho, repentinamente mudou de ideia. Voltou resoluto para de trás de todos ali presentes, comprou um copo de água e enquanto se refrescava, tomou a decisão de se dar uma nova chance. Que a partir daquele momento, deixaria de levar a vida tão a sério. E finalmente ligou o foda-se.

      

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Lembranças

O triunfo

Arrancou velozmente pela lateral direita e se pôs em condições de receber o passe. Era sem dúvida seu grande momento na partida. A bola veio lentamente em sua direção. Era só encher o pé e correr para o abraço. Na plateia, sua grande paixão assistia ao jogo sem maior interesse e aquele era o momento de chamar sua atenção. Ele escolheu o canto e chutou com toda sua força. Foi um chute espetacular, mas no vácuo. Com isso, seu pé de apoio não suportou a pressão e seu corpo sucumbiu chocando-se estupidamente na quadra. Sua cabeça foi a última a bater no solo, ocasionando um eco abafado que propagou-se por todo o recinto. Estirado ao chão, virou a cabeça para o lado e avistou a garota com cara de pânico. E um jato de sangue de emergiu violentamente de sua boca.

Dia dos namorados.

Arremessou o dado para cima. Se desse par ligaria para ela. Se desse ímpar estaria livre desse calvário. O dado caiu velozmente sobre a mesa de vidro e rodopiou até que enfim parou com a quadra virada para cima. Socou a mesa com ferocidade, praguejou em italiano e retirou o telefone do gancho. Com os dedos afoitos discou o número e aguardou a chamada. Estava ofegante e muito tenso. Sua coluna parecia que iria se partir. De repente, a chamada foi interrompida e uma voz suave, subitamente emergiu:
— Alô.

Ele ficou ali prostrado em absoluto silêncio.  Repentinamente, desligou o telefone, engoliu o dado e destruiu todo seu apartamento.

Banquete.

Agarrou o sanduíche com as mãos sôfregas e o levou ferozmente à boca. Sua mordida consumiu metade do sanduíche que ficou a rolar para lá e para cá dentro da boca semi- aberta, que mais lembrava uma máquina de lavar. Em seguida, bebericou o refrigerante, mas parte desse escorreu pelo peito. Devolveu o copo a mesa e quase o tombou. Ajeitou-se na cadeira e olhou a sua volta. Todos ali presentes na praça de alimentação a fitavam com espanto. Deu de ombros e concentrou-se novamente em seu banquete, afinal, não era todo dia que aquilo ocorria.

Heart at Peace

Improviso Jazz

quarta-feira, 8 de junho de 2016

As the Years go Passing By - Gary Moore (Improviso)

Chitlins Con Carne - Kenny Burrel (Improviso)

Outono

As Times Passes

Smile

Despedida

Sem Direção

Mistérios

Olhos Fechados

Castelo de Areia

Passos em Falso

Ressurgir

Urgência

Viagem

Blues for Jack

The Great Gig in the Sky - Pink Floyd - (Improviso)

Zoot Allures - Frank Zappa (Improviso)

Susi

Crossfire _Stevie Ray Vaughan - (Improviso)

Comfortably Numb - Pink Floyd (Improviso)

Born Under a Bad Sign - Albert King (Improviso)

Red House - Jimi Hendrix (Improviso)

Texas Flood - Stevie Ray Vaughan - (Improviso)

Fim de Tarde

While My Guitar Gently Weeps - The Beatles (Improviso)

Blues for Narada - Jeff Beck - (Improviso)

Cocaine - Eric Clapton (Improviso)

Far Wes - Wes Montgomery- (Improviso)

terça-feira, 3 de maio de 2016

Frieza



Aquele ronco era inconfundível. Era raro alguém ainda ter um carro que possuía escapamento de puma. Aquela fora a terceira vez que Ana passava pela rua onde moro. Dei de ombros e relaxei. Ela havia de se conformar. Tudo já estava esclarecido e o fim de nosso relacionamento era fato consumado.

Passado uma hora, percebi novamente sua aproximação. Subitamente, minha paciência se esvaiu e fui até o portão a fim de dar uma basta na situação. No trajeto, ouvi um estrondo medonho. Corri e ao chegar ao portão, presenciei a cena que ficaria para sempre em minha memória. Ana havia colidido de frente com um caminhão. Fiquei paralisado, enquanto observava sua cabeça pendida para o lado, completamente imóvel. Seu rosto estava pálido e seus olhos esbugalhados. Em seguida, a vizinhança ligou para a emergência e concentraram-se em volta do acidente. Ouvi alguém gritar que ela não tinha os sinais vitais.


E eu fiquei ali, absorto, vendo um dos meus problemas sendo resolvido.