terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cinta liga da justiça

I
Enquanto isso na sala de Justiça...
— Tome, experimente meu café – disse Superman à Robin
— Ai, ai, ai – gemeu Robin colocando rapidamente a xícara sobre a mesa.
— O que foi, está quente?
—Não, está sem açúcar! – respondeu Robin todo emburrado.
O Superman achou super estranho aquele comportamento, mas logo pensou que era coisa da sua cabeça.
II
—Puta merda, falei pro Robin parar de ficar ouvindo aquele cd do Village People no último volume no Batmóvel. Eu sabia que ia descarregar a bateria – disse Batman, puto da vida.
— Mas não vai ficar assim não. Ele vai dar jeito nessa merda.
III
Batman surge repetinamente no enorme monitor da sala de justiça e com um sorriso irônico, mordendo os lábios de ódio disse a Robin:
—Oi, Robin, só vou lhe dizer uma palavrinha e você já vai entender viu.
Robin já acostumados a decifrar as charadas de um dos seus inimigos disse:
—Manda aí!
E Batman disse:
—Chupeta

Robim em meio ao constrangimento respondeu:

—To indo para aí agora.
— Ta, mas não demora – ordenou Batman.
IV
Superman já se encontrava sozinho na sala de Justiça quando pensou:
—O boato se confirmou. Bem que todo mundo já desconfiava. Já não bastava o Vulcão negro que anda com um fogo no rabo, O Homem gavião que quando não está sentado no pau, está com o pinto na boca e o Aquaman que não desgruda daqueles botos cor de rosa.
— Bom, deixa eu cuidar da minha vida. Hoje minha agenda está lotada. Tenho depilação, pedicure e manicure. Vou correr, ou melhor, voar.

A precipitada

Depois de tanto relutar, resolveu seguir o conselho de sua amiga. Naquela tarde, procurou a Celeste, uma cartomante que era perfeita em suas revelações. Era também bem extravagante em sua forma de se vestir. Tinha os braços todos tatuados e usava vários piercing. Não causou uma boa impressão em Michele, mas com sua simpatia acabou por conquistar sua confiança.
— Vim te procurar, para ver se você consegue ver algum romance pra mim no futuro. Terminei meu noivado há uns seis meses com Charles, um dançarino de axé e depois dele, não consegui me relacionar com mais ninguém.
— Interessante, um dançarino de axé, Você deve gostar desse tipo de música?
— Adoro, na verdade eu também já fui dançarina, mais devido a uma contusão no meu joelho esquerdo, fui proibida de dançar. Mas minha paixão mesmo é sertanejo,  Tenho todos os cds de todas essas duplas que fazem sucesso.
Celeste tinha horror àqueles tipos de músicas, mas preferiu não dar sua opinião a respeito. Embaralhou as cartas do baralho e pediu para Michele cortá-lo, em seguida, foi espalhando as cartas, ao mesmo tempo em que ia comentando todo o estado de espírito de Michele. Todo seu passado e suas desilusões. Michele ouvia tudo sem acreditar que aquilo era possível. De repente ao virar uma carta, Celeste abriu um largo sorriso. Michele sem saber do que se tratava, perguntou.
— Meu Deus, o que você esta vendo aí, é coisa boa?
Ao perceber toda aquela exitação causada pelo seu sorriso, Celeste tratou logo de mudar sua fisionomia.
— Vejo que você mora em um apartamento. Minha dica é que a pessoa que entrará em sua vida hoje, estará ouvindo uma música bem diferente. Diria exótica. Ele ouvirá essa música em um volume bem alto e você logo identificará.
— Mas no meu prédio não podemos ouvir som alto.
— Mas ele ouvirá assim mesmo, será uma espécie de canto da sereia pra você.
— Que bom, e logo um vizinho.
Jair que curtia um pagodão pensou:
—Vou ouvir esse cd pra ver se presta, o Sérgio sempre diz que blues é cachaça. Como estou louco pra tomar aquele uísque que ganhei no Natal, vou arriscar quem sabe eu passo a gostar.  
A primeira música era  Hoochie Coochie Man de um tal de Muddy Waters que ele colocou com o volume no talo. Em seguida se serviu de uma dose generosa de Uísque, sentou-se na poltrona e pensou:
— É, esse som não tem muito de romantismo não. É bom que eu paro de pensar naquela safada da Carol.
De repente, alguém tocou sua campanhia e ele ao abrir se defronta com uma morena espetacular que sem se quer falar uma palavra, o agarra aos beijos empurrando-o para dentro do seu apartamento.
Após o intenso intercurso sexual, ambos começam a ouvir uma música estranhíssima, que vinha do apartamento de cima.
Em seu apartamento, Roberto ouvia tranquilamente o cd do John Cage e pensava:
— Será que aquela cartomante estava certa?

Festa de fim de ano na empresa


— Vira, vira, vira. Vira, vira, vira, Vira, vira, vira, virou, heeeeeeee( aplausos e gargalhadas )
 — Mais uma vai!
— Vira, vira, vira. Vira, vira, vira, Vira, vira, vira, virou, heeeeeeee( aplausos e gargalhadas )
Meia hora depois, se junta ao benevolente grupinho, o Sr. Pablo, Gerente geral, que estava pra lá de Bagdá. Completamente esculhambado, com a metade da camisa pro lado de fora da calça, com os botões praticamente desabotoados de tanto dançar axé e com as pálpebras praticamente cerradas, grita ao seu funcionário de confiança:
— Vai lá, toma a décima segunda que é pra bater com seus doze anos de casa.
E com a ajuda do coral:
— Vira, vira, vira. Vira, vira, vira, Vira, vira, vira, vomitou uhhhhhhhh( aplausos e gargalhadas )
De repente um silêncio toma conta do salão.
E alguém preocupado diz:
— Nossa, ele está dobrando a língua.
Opa, não foge não Sr. Pablo que é a sua vez, heeeeeeeeeee (aplausos e gargalhadas)

Metamorfose

Naquela noite, resolvi de última hora que não iria acompanhar meus colegas de sala de aula até a praia. Aleguei que estava fadigado. Descer a serra não estava sendo no momento o que eu esperava de um programa de final de semana.
Todos ficaram putos com a minha postura, mas relevaram, afinal de contas, eles já me tratavam como café com leite, ou seja, alguém pra não se levar a sério.
Ao vê-los se distanciar dentro do pau velho do Marcelo, saquei da mochila o que seria meu companheiro de final de semana, me refiro à obra prima do Franz Kafka intitulada Metamorfose.
Tomei a decisão de iniciar a leitura me regando de umas cervejas e me dirigi a uma choperia de costume. Chegando lá uma garçonete veio me atender. Mas não era uma garçonete qualquer. Ela tinha um Q a mais do que as outras. Um Q de feiúra. Era uma espécie de Macabéia da Clarice Lispector, mas elevada ao cubo. Com certeza São Jorge tremeria ao vê-la.
Perguntei a ela:
— A Lúcia está de folga?
— Não, ela foi dispensada, me contrataram para seu lugar.
Não pude acreditar. A Lúcia era um filezinho, uma doçura. Era burrinha igual a uma porta, mas tinha carisma.
— Seja bem vinda então – Disse isso me sentindo o cara mais cínico da face da terra.
— Obrigada, meu nome é Floresbela, mas pode me chamar de Flor e o seu?
— O meu é Custódio, mas não dá pra abreviar igual ao seu.
Ela deu uma gargalhada e notei que ao menos não era tão desprovida de neurônios como a Lúcia e era bem carismática. Mas a natureza havia sido implacável com ela.

Ao chegar a cerveja e a dose de uísque que eu havia pedido, mergulhei fundo na leitura do Metamorfose e quando dei por mim o recinto já estava com as portas baixadas pelo meio e minha mesa repleta de garrafas de cerveja e copos de uísques. Após essa constatação, tentei retornar a leitura, mas as linhas da página já estavam se entrelaçando e a solução foi dar por encerrada a leitura.

Quando a Flor se aproximou para me alertar que o bar já estava fechando, fiquei a observando com a boca aberta de perplexidade.
Ela notando meu espanto me perguntou:
—O que foi?

—Nada, só estava te olhando.
Naquele instante eu presenciava uma metamorfose.
A flor não era de se jogar fora, na verdade era uma tchutchuca, quase uma miss.

O Vidente

Cheguei ao barzinho de sempre, acompanhado de dois colegas de copo. Era uma noite agradável e tudo indicaria que o melhor ainda estava por vir. E o melhor tinha nome, era Marlene, uma morena cor de jambo que deixava os homens loucos de desejos, mas que já tinha dono. Eu, claro.
Tinha marcado o encontro com ela e suas amigas, a fim de apresentá-las aos dois encalhados.
Devido ao teor profundo da nossa conversa, não me dei conta de alguém que se aproximou por trás de mim e tapando meus olhos com as mãos finas e perfumadas perguntou:
— Adivinha quem é?
Pensei em dizer que já sabia quem era, mas me calei e deixei rolar. Pro meu espanto, era a Adriana, minha noiva. Naquele instante, me lembrei do que a Marlene havia dito na noite em que nos conhecemos:
— Ok, você tem uma noiva, obrigado pela sinceridade. Podia ter dito isso antes de eu ter ficado quase a noite inteira com você, mas tudo bem. Só vou lhe pedir uma coisa. Não me apareça com ela neste bar ou verá do que sou capaz.
Fiquei em estado de choque, completamente estarrecido e sem reação. Adriana nada boba percebeu minha aflição logo de imediato.
— Que cara é essa, não gostou da surpresa?
— Claro que gostei. Mas você não me falou que iria sair com a Neide?
— Ela mudou de idéia, deu pra trás. Resolvi então ir até a sua casa e sua mãe me falou que você tinha saído com seus amigos e logo presumi que vocês viriam aqui.
— Que sabidinha hein – Soltei esse elogio já com o cuzinho na mão.
Diante daquela situação, me esqueci de apresentar os que eu já julgava cúmplices da baixaria que viria pela frente.
Depois das apresentações, notei que meus colegas também estavam incomodados com a situação, instalando assim um clima de terror naquela mesa. Como eu estava de costas para entrada do bar, passei a olhar incansavelmente para trás, esperando o início do espetáculo do qual eu seria protagonista.
Adriana, que não era nada boba, percebeu minha aflição e me perguntou:
— Mas por que você olha tanto pra trás, está esperando mais alguém?
— Eu? Imagina
— Então o que está acontecendo? – Insistiu ela

— É que estou com um mal pressentimento

Dois minutos depois, teve início a um quebra pau generalizado do lado de fora do bar. Socos, chutes, garrafadas, cadeiradas, sangue, choros, etc. Ingredientes que não podem faltar em uma boa briga de bar.
Peguei a Adriana pelo braço e sai correndo em direção a um taxi que vinha passando.
Distante daquela algazarra a caminho de casa, Adriana me pergunta:
— Você é vidente?

Juntos para sempre?

 Mas que lugar esse que você me trouxe? - disse Isabela demonstrando preocupação.
- Eu te avisei que o lugar era meio estranho, lembra? – disse Henrique com um tom de voz sério
De mãos dadas continuaram sua peregrinação por aquela estrada de chão batido que era cerrada pelas copas das árvores. Fazia pouco tempo que o sol tinha se posto, a temperatura havia caído repentinamente e ambos estavam desprevenidos sem agasalhos. Além disso, a visibilidade estava prejudicada em razão da neblina que caia insistentemente e dava àquele trajeto um aspecto tenebroso.
Após terem caminhado por meia hora, Henrique avistou a modesta casa que procuravam. Ele esteve lá há uns dois anos, mas não se lembrava direito do caminho. Na ocasião, ele estava na companhia de um amigo e ainda por cima estava completamente embriagado. Abriu um leve sorriso de satisfação. Satisfação essa que Isabela não compartilhou, pois sua expressão lembrava mais um animal acuado por um predador.
- Pronto, pode relaxar, já chegamos – disse Henrique
- Vamos voltar, vai , estou muito apreensiva, fazia muito tempo que não me sentia assim, não estou com bom pressentimento – disse Isabela
- Mas nem pense nisso, agora é tarde, já estamos aqui e não vou desistir – disse Henrique
De repente, Henrique sentiu a sensação de sua mão ser esmagada por uma morsa, tamanha a força que Isabela a segurou
Quando se aproximaram, a porta da frente da casa estava entreaberta e em seu interior notava-se apenas a penumbra, que dava um ar sombrio e que deixava Isabela cada vez mais aterrorizada. Henrique tentava a qualquer custo disfarçar seu medo, mas já se via a ponto de sucumbir se caso Isabela tornasse a convidá-lo a se retirar daquele ambiente claustrofóbico.
Henrique tomou a frente e gritou – Seu Dantas!

O silêncio permaneceu por alguns instantes e em seguida foi quebrado por uma voz grave e poderosa, que demonstrava contrariedade.
- Aguardem um momento!
Prontamente os dois obedeceram à solicitação permanecendo estáticos em frente da casa. Em seguida, surgiu um homem alto, com um bom porte físico, que aparentava já ter certa idade e com uma expressão dura no rosto.
- O que querem? – disse o homem.

- Eu já estive aqui há um tempo com um amigo e o senhor nos atendeu, não sei se lembra? – disse Henrique.
- Meu amigo, eu atendo inúmeros clientes, não acha que me lembraria de você em especial, acha? – disse Dantas aparentando descontentamento.
- O senhor deve estar ocupado, não foi nossa intenção atrapalhá-lo, podemos voltar outro dia, é só o senhor nos falar a data – disse Isabela.
Dantas deu um suspiro longo e em seguida os convidou a entrar em sua casa.

- Sentem-se e fique a vontade, vou terminar de atender um cliente e já os atendo – disse Dantas.
Dez minutos depois, saiu de um dos cômodos, um rapaz magro, que tinha em seus olhos o brilho da esperança. Era o último cliente daquele dia. Henrique conteve seu ímpeto em pedir para que aquele rapaz os aguardasse e os fizesse companhia na volta para casa, pois o regresso também já o preocupava. O rapaz apenas acenou com a cabeça e saiu a passos largos.
Passado alguns minutos, ambos tornaram a ouvir aquela voz que agora vinha do interior do cômodo que eu rapaz havia saído.
- Entre! – Ordenou Dantas.
 - Vai dar tudo certo! – disse Henrique à Isabela, tentando ele mesmo se convencer de suas palavras.
Já no interior da sala, Henrique explicou à Dantas, o motivo pelo qual foram ao seu encontro. Disse que já sabia a algum tempo da sua fama pela região e que quando o procurou há dois anos, foi para acompanhar um amigo que estava com o coração partido e que através dos resultados obtidos pelo amigo, ficou motivado a procurá-lo.
- Modéstia a parte, meu trabalho é bem reconhecido por essas bandas, eu sei bem disso – disse Dantas todo convencido.
A partir dali, através dos elogios tecidos por Henrique, Dantas começou a tratá-los com menos rispidez, melhorando até o seu atendimento.

 Henrique por fim, pediu para que Dantas materializasse o pacto que ele havia feito com Isabela, pois acreditava piamente em seu poder.
Isabela e Henrique tinham inimigos em comum e eles em várias ocasiões tentaram separar o casal usando de todos os artifícios, obtendo um sucesso momentâneo em uma delas. Mas durante a separação, Isabela procurou uma cartomante que a alertou de todos os pormenores. Eles temiam passar por isso novamente e resolveram optar pelo pacto.
- Pode ficar despreocupados, o que eu uno nunca se separa. Mas isso vai custar dinheiro, vocês sabem? – disse Dantas
- Dê seu preço, dinheiro não é problema para nós – disse Henrique
- Por vocês não terem agendado, vou ter que cobrar um valor adicional, tudo custará R$ 2.000,00 ok? – perguntou Dantas.
Henrique tirou do seu bolso um bolo de dinheiro e em seguida completou com o que havia em sua carteira e entregou a Dantas
- Pronto, pode dar início – ordenou Henrique
Dantas foi até o armário, pegou um estojo grande e tirou do seu interior algumas tintas, seringas, agulhas e uma máquina de tatuar e as distribuiu cuidadosamente na mesa. Em seguida pediu para Isabela e Henrique esticarem seus braços sobre a mesa, para ele tirar um pouco de sangue e misturar com a tinta que ele iria utilizar ao tatuar seus respectivos nomes nos braços.
Isabela estava perplexa, não imaginava que iria tão longe naquela loucura, mas resolveu acreditar assim mesmo.
Dantas quando jovem atuou um bom tempo como tatuador quando morava na cidade, mas resolveu abandonar o ofício em prol do misticismo.
Duas horas depois, estava Isabela com o nome de Henrique em seu antebraço e Henrique com o nome dela no seu. Ambas eram bem pequenas e o desenho das letras até agradou Isabela. Mas Henrique nem sequer prestou muita atenção nelas, pois não via a hora de deixarem o local em razão do horário.
Dantas reforçou a garantia de seu serviço e os acompanhou até a saída.

Três anos se passaram e Felipe surgiu em frente à casa de Dantas gritando seu nome.
 Dantas o atendeu com seu mal humor habitual e logo soube que Felipe era amigo de Henrique e que era ele que havia estado com Henrique na primeira vez que o visitaram. Dantas se lembrou com facilidade, pois não era todo cliente que pagava uma quantia tão generosa quanto aquela que Henrique havia desembolsado.
Quando Dantas começou a se vangloriar devido ao seu serviço prestado ao casal, Felipe o interrompeu bruscamente.
- Senhor Dantas, eu já sei de toda a história e é justamente por isso que estou aqui. Quero que o senhor desfaça o que fez e lhe explico o porquê – disse Felipe.
Dantas arregalou os olhos e ouviu atentamente o que Felipe começou a dizer.
- Uma semana após Henrique e Isabela terem o procurado, ambos sofreram um acidente violentíssimo de automóvel. Isabela teve sua cabeça decepada e Henrique sobreviveu, mas praticamente vegeta, pois perdeu as duas pernas e um braço, por coincidência, o braço que lhe restou é o tatuado.
Além disso, Henrique já tentou o suicídio várias vezes e seu quadro vem se agravando seriamente. Ele alega que através dos sonhos que tem tido, Isabela está o aguardando para não romperem o pacto. – concluiu Felipe.
Dantas ao ouvir todas aquelas tristes novidades, olhou para baixo e disse com voz baixa.
- Lamento, não posso fazer nada. Eu os avisei que quando uno os casais, não consigo mais desfazer o pacto, portanto, essa situação vai perdurar.
Felipe ainda tentou convencer Dantas, mas não obteve sucesso, Dantas estava irredutível.
Seis meses se passaram e Henrique inexplicavelmente teve um derrame que o paralisou do lado do seu braço. Agora ele estava praticamente vegetando e sua família até pensava em proceder com a eutanásia, por presenciar tamanho sofrimento.
Enfim, chegou o dia da exumação de Isabela, tanto a família dela como a família de Henrique estavam presentes e para surpresa de todos ao abrir o caixão restava além dos ossos, seu braço, intacto com nome de Henrique tatuado.

A morte da esperança

Já era tarde da noite quando Marcos dirigiu-se até a janela da sala para trancá-la. Havia se distraído na cozinha com toda aquela louça suja e nem percebeu que sua casa estava vulnerável. Mas era tarde demais. Um homem com uma aparência sombria já havia adentrado o local. Estava com uma pistola em punho apontada para sua cabeça.
— E aí vacilão, preparado para o pior?
A princípio, Marcos ficou um pouco atônito, mas logo relaxou.
—Me mostra agora onde fica o cofre – ordenou o ladrão.
—Não tenho cofre. Aliás, nem dinheiro em espécie eu tenho comigo. 
—Você está de brincadeira comigo, está querendo morrer?
Nesse instante, Marcos sorriu discretamente e disse:
—É você quem sabe. Já lhe falei que não tenho dinheiro.
O bandido encolerizado colocou Marcos de joelhos, engatilhou a arma e encostou o cano gelado em sua nuca.
Marcos sentiu naquele instante, o início de sua libertação. Enfim se livraria de todo o pesar que havia se tornado sua vida. Devido o fato de penetrar no universo espírita, o suicídio a muito já era uma idéia remota, pois aprendeu que atentar quanto à própria vida, só lhe acarretava mais sofrimento. E esse homem que invadiu sua casa, daria cabo de sua vida, isentando-o que qualquer culpa.
 
A frieza de Marcos despertou a atenção do homem e esse surpreso com aquela atitude perguntou:

— Não tem medo de morrer?
Marcos olhou profundamente nos olhos do seu agora redentor e disse secamente.
—Não, acaba logo com isso.
O homem então, notou a dor naquele olhar. Um olhar que jamais havia presenciado em suas inúmeras vítimas. Como era extremamente cruel, desengatilhou a arma, a guardou em sua cintura e se retirou pela mesma janela que havia entrado.

Encontros e Desencontros

— Mas que cara bacana esse Luís hein!
— Não sei de onde vem tanta doçura, a gente nunca vê ele de mal humor.
Outro velhinho se junta ao grupo e relembra:
— É, graças a ele é que hoje podemos nos distrair nesse campo de malha.
— Tem razão, o lado ruim disso é que eu não tenho dado mais atenção a minha mulher. Viciei nesse jogo.
Enquanto os velhinhos teciam seus elogios, Luís se aproximou discretamente e apertou por trás o tornozelo de um deles, que gritou assustado.
— Filha duma boa mãe.
E Luís que era só sorriso, fechou sua expressão e saiu bruscamente, deixando os velhinhos sem entenderem nada.
Nesse instante, se aproximou Sr. Osvaldo, pai de Luís, que havia acabado de ser eliminado do jogo e que presenciou o gesto de Luís.
— Fiquem tranqüilos, não é nada com vocês. É que se o Sr. Humberto tivesse dito filho de uma puta a história seria outra.
— Como assim? - Indagou Sr. Humberto.
— Meu filho tem um coração de ouro, esse campo de malha que ele fez para nós, não é nada comparado a todas as outras benfeitorias que presencio. Não é por que é meu filho não, mas se ele quisesse se candidatar a vereador, ele se elegeria tranquilamente. Mas voltando a sua pergunta, o que aconteceu é que ele não conseguiu superar o fato de sua mãe ter o abandonado quando ele tinha apenas quinze anos. Isso o marcou profundamente. Mas não tiro sua razão, não faltava nada para aquela vadia e mesmo assim ela queria ser independente e ter um grande status, para isso, preferiu abrir mão de nós dois e seguir seu caminho.
— Esse comportamento que ele apresentou, não condiz com sua personalidade. Ele deveria procurar ajuda para resolver essa questão, pois trata-se de um grande caráter – Comentou Sr. Chico.
Na verdade, para o Sr. Osvaldo, isso não tinha muita importância, na verdade ele queria mesmo é que Luís nunca perdoasse sua mãe, afinal, ambos sobreviveram até aquele momento sem ela, e por ele ela já não fazia mais falta.
Horas mais tarde:
—Aí meu Deus, acudam aquela senhora, está vindo um temporal e aquele guarda sol não vai conseguir protegê-la.
— Mas por que ela não procurou um albergue? Não é de hoje que ela vive aí nessa praça parecendo um bicho.
Aproximou-se o quitandeiro e lhe ofereceu abrigo em sua quitanda, mas aquela senhora era irredutível, afinal, o gesto do quitandeiro era o de mais um entre tantos que vinham lhe oferecer ajuda.
Vêm a chuva torrencial junto com rajadas de vento e toda a vizinhança assistindo àquela senhora com sua teimosia suicida, lutando para permanecer sentada com o guarda sol na vertical enquanto assistia seus pobres pertences sendo levados pela correnteza.
Luís, inconformado com aquela cena, saiu em disparada em direção da mulher que a essa altura, sucumbia entregue a tempestade.
E a vizinhança atônita, assistia a um abraço efusivo seguido de soluços que lembrava o encontro de duas pessoas que não se viam há muito tempo.

Em apuros

— Puta que pariu! – Pensei em voz alta.
Uma ninfeta maravilhosa havia acabado de passar próximo da minha mesa.Ela não tinha “ânus”. Tinha “séculus”de tão grande que era sua bunda. Não me lembrava de ver uma mulher tão espetacular como ela há muito tempo.
De repente, Junior, um grande amigo meu que me fazia companhia disse:
— Vixi, fudeu. Olha com quem ela está acompanhada.
Era um brutamontes cujo braço era mais ou menos proporcional a bunda a pouco mencionada. Não deu tempo nem de respirar e o cara já estava em pé ao meu lado.
— E aí rapá! Tu gosta de mexer com a mulher dos outros, não gosta?
Me levantei da mesa com a intenção de me desculpar. Quando dei por mim, já estava literalmente nas garras do corno precoce. O cara me agarrou pelo o pescoço de tal forma que tive de ficar na pontinha dos pés para não ser levantado do chão. Meu desespero aumentou quando percebi a cartilagem toda destruída da sua orelha. Vi que se tratava de no mínimo um lutador de vale tudo.
— Vem aqui pro cantinho que vou deixar sua carinha em forma de cinzeiro – Disse a montanha de músculos.
Ele me arrastou bruscamente para próximo de uma pilastra ainda dentro do bar. Olhei em minha volta e todos estavam lá, apenas observando aquele espetáculo, para minha desolação. Foi quando me dei conta que na mesa do brutamontes havia porções de costela assada, uma das especialidades da casa. E me lembrei que sempre que eu as degustava, ficava com as mãos todas engorduradas.
De repente, um punho enorme serrou-se em minha direção. Julguei estar a um palmo de distância da pilastra. Numa fração de segundos me joguei violentamente para trás escapando assim da mão do meu algoz. Em seguida pendi meu corpo para o lado e vi aquele punho amedrontador sendo esmagado contra a pilastra.
Saí em disparada enquanto ouvia um grito horripilante de dor.
Depois daquele fatídico dia, sempre que eu via um lindo traseiro, me vinha automaticamente a imagem daquele punho.

Grande Amigo!

Respirou profundamente, limpou com as costas da mão o suor da testa e agarrou com suas mãos já todas calejadas a pá. Com o resto de força que lhe restava voltou a cavar a cova que já estava na altura de sua cintura. Sob a luz de uma enorme lua, sua única testemunha, vez ou outra, parava para descansar e o silêncio mórbido daquela mata o arrepiava de tal forma que o obrigava por previsão a fazer o sinal da cruz enquanto questionava-se em voz alta:
— Será que essa é a melhor solução?
— Não seria melhor eu ir até uma delegacia e explicar o ocorrido?
— O que me comove é que Mauro gostaria de ser cremado e o coitado está aqui, sendo enterrado nessa cova rasa, pelo seu melhor amigo e sem a presença de nenhum membro da família. Mas quem o mandou ser impulsivo? Porque não me deixou explicar que tudo não passava de um equívoco? Tinha que se exautar e vir armado com aquela faca. Eu não tive alternativa a não ser me defender daqueles golpes. Mas para minha sorte, meu Kong-fu estava em dia e ele não foi páreo para mim. Uma pena! Só na cabeça dele que eu, seu melhor amigo, iria trair sua confiança, arrastando asa para a mulher que ele penou para conquistar. A Lídia é um encanto, uma flor, uma diva, uma... Quer saber: foda-se você Mauro. A Lídia precisará de um ombro amigo e aí sim você terá razão. Otário!
E voltou a cavar com mais afinco.

Solidariedade Mórbida

Avistou ao longe uma caçamba em frente a uma construção. Automaticamente, soltou ao chão o fétido saco de lixo que havia revirado atrás de qualquer sobra para matar sua infindável fome. Respirou resignado e foi arrastando seus pés descalços em direção a caçamba que a essa altura já lembrava mais uma miragem, tamanha a fé de encontrar algo de útil para seu lar (se é que se pode chamar embaixo da ponte de lar).
Quando se aproximou, olhou desconfiado à sua volta para ver se alguém lhe chamaria a atenção, fato já corriqueiro em sua vida. Mas a rua estava completamente vazia, sem nenhum carro passando. Começou então a fuçar em todo aquele entulho, como se fosse uma dona de casa em uma barraca escolhendo tomates. Ia jogando de lado o que não interessava, quando de repente, ao levantar uma enorme cúpula de abajur, surpreendeu-se com que viu. Era um lindo bebê, recém nascido que com certeza havia sido jogado por alguém que não o desejava.
Ficou ali a observá-lo por alguns instantes em quanto se surpreendia com sua indulgência perante o autor daquele ato vil. E começo a falar para o bebê que o respondia com um sorriso:
— Vou dar um jeito nisso, não se preocupe. Você não vai sofrer.
E bruscamente, o pegou pelo pescoço e bateu com toda a força em direção a quina da caçamba.Afastou-se suavemente e seguiu para o fim da rua, limpando o sangue de sua mão em sua surrada calça enquanto pensava:
— Coitado, foi melhor assim. Essa vida é cruel demais e ele já a começou com o pé esquerdo.
— Foi bem melhor assim!

O dia em que brinquei de Deus.

Estava eu, embaixo do chuveiro, tomando aquele banho, quando avistei uma teia de aranha no vitrô do banheiro. Nela estava sua idealizadora e sua preza. O mosquitinho estava pra lá de desesperado com a aproximação de sua predadora. Eu fiquei ali, assistindo de camarote a regência da natureza. Foram apenas alguns instantes e logo me entediei e voltei a me concentrar em meu banho. Me sequei, me vesti e ao secar o banheiro com o rodo, dei uma última olhada na teia . Percebi que havia mais um mosquitinho ali ao lado apenas observando a agonia de seu colega. Pensei que a aranha pudesse ter tomado um Gardenal, tamanha a sonolência com que ela agia, pois ainda não tinha abatido seu café da manhã. De repente, me ocorreu de cometer uma travessura. Aproximei meu polegar e meu dedo médio do mosquitinho e lhe dei um peteleco o arremessando em direção à teia. Meu intuito era interferir na natureza e dar à aranha mais um prato para mesma se empanzinar. Mas o que ocorreu foi justamente o contrário. Sem querer acabei por acertar um mosquito no outro e no impacto (se é que podemos chamar assim) um acabou salvando o outro das garras da agora faminta e frustrada aranha.
E o pior ainda estava por vir. Sem sua refeição, a aranha  ficava também sem seu lar.Afinal, eu tinha que dar um trato naquele o banheiro né. O que vocês iriam achar de mim?        

Seu olhar

Esse olhar me faz tremer
Presa fácil eu me torno
Suspirando sem saber
Se enfrento ou se contorno.

E parado vou ficando.
A espera do provável
E a inércia provocando.
Esse ato lamentável.

Avalanche Sentimental

Minha pobre razão tão pressionada.
Por que essa avalanche de sentimento.
Acaba por causar um sofrimento.
Nesta alma desprotegida e desarmada?

E que se aproveitou tão friamente
De mim, um descuidado sonhador.
Que não fazia idéia do que é dor.
Hoje paga por ser um imprudente.

Logo só me restando essa lamúria
Sigo então conformado no meu canto.
Afim de terminar essa penúria.

E com um breve resquício de esperança.
Aguardo confiante a estiagem.
Para trazer de volta a confiança.

Soneto do Desesperado

Vida, você mais uma vez está aprontando!
Como será que sairei desta situação.
Já estou vendo que problemas me virão.
Não tem mais jeito, ficarei então esperando.


Vai ser difícil e bastante complicado.
Com sentimentos completamente envolvidos.
Com a razão e o coração desprotegidos.
Vai demorar pra me sentir aliviado.

Ah que saudade da vidinha controlada.
Sempre vazia de emoções arrebatantes.
E toda aquela segurança inviolada.

Foi muito rápido e sequer fiquei de pé.
E engatinhando vou seguindo devagar.
Tentando não perder de forma alguma a fé.

Soneto da Admiração

Ah se você soubesse como te admiro.
Mas eu me escondo totalmente no platônico.
Sempre deixando esse silêncio sinfônico.
Amordaçar e disfarçar o meu suspiro.

Ah se eu pudesse descuidar por um instante.
Desta cautela sufocante e tão covarde.
Mas a vontade de gritar não faz alarde.
E vou seguindo sempre mudo e tão distante.

A sua presença é suave como a brisa.
A luz do seu olhar reflete calmaria.
Sua alma doce e sensível tranqüiliza.

Ah, quem me dera ter um terço de sua garra.
Pra abandonar a expectativa que contida
Só faz crescer fortalecendo as amarras

Cálido Desejo

E se você soubesse que te quero?
Como seria então sua reação?
Mas vou mentindo, me sentindo austero.
Em sufocar calado essa paixão.

Esse desejo cálido me mata.
Mas tento não deixar transparecer.
E domando essa dor que me arrebata.
Me custa não surtar e enlouquecer.

Desalento

Ainda sem ser capaz
De me tornar aprendiz
Vivo de forma voraz
Acumulando cicatriz

Falta-me ser perspicaz
Minha vida não condiz
Nunca sendo eficaz
Em ver um palmo do nariz

Mas agora tanto faz
Desisti de ser feliz
Apenas querendo paz
Pra essa alma sem verniz

Mudanças

Foi apenas questão de escolher
A decisão estava já tomada
Era o fim daquele triste sofrer
Libertando a alma amargurada

Imensa vontade a florescer
Toda a tristeza já arrancada
E a alegria a prevalecer
Deixando a vida abrandada.

Hoje planto pra amanhã colher
Não quero ter a vida acelerada
Só quero andar e parar de correr
Devagar, calmamente, sem topada.

Saudosismo de um Caboclo (Homenagem a Guimarães Rosa)

A cada dia se fez maior.
No sol escaldante do sertão.
Lavou a alma com seu suor.
E lá espalhou seu coração.

Mas na cidade, nenhum encanto.
A saudade a lhe consumir.
Só restando dores e pranto.
E uma vontade de partir

Um poema para você

Esse poema é para você.
Que ilumina minha triste vida.
Com seu sorriso de lindo bebê.
És pra mim anjo sob medida.

Esse poema é para você
Que vem curando a minha ferida
Da qual estava sempre à mercê
E que deixava a vida perdida.

Esse poema é para você
Batalhadora, nunca vencida.
Que organizou todo o fuzuê
De forma alegre e comprometida.

Lute

A você cabe apenas a chance
De aproveitar o que lhe restou
É meu desejo que vença e alcance
É o conselho de quem fracassou

É importante lutar aguerrido
Não deixe que o desânimo volte
Pois a coragem é grande abrigo.
Que impede que você se revolte

A esperança


De repente eis que tudo muda
Ávido era em transmutar
Delírios da mente imunda
Que estava a atormentar

Mas quando ela se aproximou
O baldio se tornou vereda
E o que era frio culminou
Em uma extensa labareda

A ave


 
A ave vinha de volta voando
Veloz e vagando voava raso
Estava vívida e vislumbrando
Aquela mata virgem ao acaso.

Era a vva mais atraente
Das aves era a mais valiosa
Sempre vigia do ovo latente
Com a penugem verde lustrosa