terça-feira, 18 de outubro de 2011

Encontros e Desencontros

— Mas que cara bacana esse Luís hein!
— Não sei de onde vem tanta doçura, a gente nunca vê ele de mal humor.
Outro velhinho se junta ao grupo e relembra:
— É, graças a ele é que hoje podemos nos distrair nesse campo de malha.
— Tem razão, o lado ruim disso é que eu não tenho dado mais atenção a minha mulher. Viciei nesse jogo.
Enquanto os velhinhos teciam seus elogios, Luís se aproximou discretamente e apertou por trás o tornozelo de um deles, que gritou assustado.
— Filha duma boa mãe.
E Luís que era só sorriso, fechou sua expressão e saiu bruscamente, deixando os velhinhos sem entenderem nada.
Nesse instante, se aproximou Sr. Osvaldo, pai de Luís, que havia acabado de ser eliminado do jogo e que presenciou o gesto de Luís.
— Fiquem tranqüilos, não é nada com vocês. É que se o Sr. Humberto tivesse dito filho de uma puta a história seria outra.
— Como assim? - Indagou Sr. Humberto.
— Meu filho tem um coração de ouro, esse campo de malha que ele fez para nós, não é nada comparado a todas as outras benfeitorias que presencio. Não é por que é meu filho não, mas se ele quisesse se candidatar a vereador, ele se elegeria tranquilamente. Mas voltando a sua pergunta, o que aconteceu é que ele não conseguiu superar o fato de sua mãe ter o abandonado quando ele tinha apenas quinze anos. Isso o marcou profundamente. Mas não tiro sua razão, não faltava nada para aquela vadia e mesmo assim ela queria ser independente e ter um grande status, para isso, preferiu abrir mão de nós dois e seguir seu caminho.
— Esse comportamento que ele apresentou, não condiz com sua personalidade. Ele deveria procurar ajuda para resolver essa questão, pois trata-se de um grande caráter – Comentou Sr. Chico.
Na verdade, para o Sr. Osvaldo, isso não tinha muita importância, na verdade ele queria mesmo é que Luís nunca perdoasse sua mãe, afinal, ambos sobreviveram até aquele momento sem ela, e por ele ela já não fazia mais falta.
Horas mais tarde:
—Aí meu Deus, acudam aquela senhora, está vindo um temporal e aquele guarda sol não vai conseguir protegê-la.
— Mas por que ela não procurou um albergue? Não é de hoje que ela vive aí nessa praça parecendo um bicho.
Aproximou-se o quitandeiro e lhe ofereceu abrigo em sua quitanda, mas aquela senhora era irredutível, afinal, o gesto do quitandeiro era o de mais um entre tantos que vinham lhe oferecer ajuda.
Vêm a chuva torrencial junto com rajadas de vento e toda a vizinhança assistindo àquela senhora com sua teimosia suicida, lutando para permanecer sentada com o guarda sol na vertical enquanto assistia seus pobres pertences sendo levados pela correnteza.
Luís, inconformado com aquela cena, saiu em disparada em direção da mulher que a essa altura, sucumbia entregue a tempestade.
E a vizinhança atônita, assistia a um abraço efusivo seguido de soluços que lembrava o encontro de duas pessoas que não se viam há muito tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário