terça-feira, 18 de outubro de 2011

A precipitada

Depois de tanto relutar, resolveu seguir o conselho de sua amiga. Naquela tarde, procurou a Celeste, uma cartomante que era perfeita em suas revelações. Era também bem extravagante em sua forma de se vestir. Tinha os braços todos tatuados e usava vários piercing. Não causou uma boa impressão em Michele, mas com sua simpatia acabou por conquistar sua confiança.
— Vim te procurar, para ver se você consegue ver algum romance pra mim no futuro. Terminei meu noivado há uns seis meses com Charles, um dançarino de axé e depois dele, não consegui me relacionar com mais ninguém.
— Interessante, um dançarino de axé, Você deve gostar desse tipo de música?
— Adoro, na verdade eu também já fui dançarina, mais devido a uma contusão no meu joelho esquerdo, fui proibida de dançar. Mas minha paixão mesmo é sertanejo,  Tenho todos os cds de todas essas duplas que fazem sucesso.
Celeste tinha horror àqueles tipos de músicas, mas preferiu não dar sua opinião a respeito. Embaralhou as cartas do baralho e pediu para Michele cortá-lo, em seguida, foi espalhando as cartas, ao mesmo tempo em que ia comentando todo o estado de espírito de Michele. Todo seu passado e suas desilusões. Michele ouvia tudo sem acreditar que aquilo era possível. De repente ao virar uma carta, Celeste abriu um largo sorriso. Michele sem saber do que se tratava, perguntou.
— Meu Deus, o que você esta vendo aí, é coisa boa?
Ao perceber toda aquela exitação causada pelo seu sorriso, Celeste tratou logo de mudar sua fisionomia.
— Vejo que você mora em um apartamento. Minha dica é que a pessoa que entrará em sua vida hoje, estará ouvindo uma música bem diferente. Diria exótica. Ele ouvirá essa música em um volume bem alto e você logo identificará.
— Mas no meu prédio não podemos ouvir som alto.
— Mas ele ouvirá assim mesmo, será uma espécie de canto da sereia pra você.
— Que bom, e logo um vizinho.
Jair que curtia um pagodão pensou:
—Vou ouvir esse cd pra ver se presta, o Sérgio sempre diz que blues é cachaça. Como estou louco pra tomar aquele uísque que ganhei no Natal, vou arriscar quem sabe eu passo a gostar.  
A primeira música era  Hoochie Coochie Man de um tal de Muddy Waters que ele colocou com o volume no talo. Em seguida se serviu de uma dose generosa de Uísque, sentou-se na poltrona e pensou:
— É, esse som não tem muito de romantismo não. É bom que eu paro de pensar naquela safada da Carol.
De repente, alguém tocou sua campanhia e ele ao abrir se defronta com uma morena espetacular que sem se quer falar uma palavra, o agarra aos beijos empurrando-o para dentro do seu apartamento.
Após o intenso intercurso sexual, ambos começam a ouvir uma música estranhíssima, que vinha do apartamento de cima.
Em seu apartamento, Roberto ouvia tranquilamente o cd do John Cage e pensava:
— Será que aquela cartomante estava certa?

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