terça-feira, 18 de outubro de 2011

Juntos para sempre?

 Mas que lugar esse que você me trouxe? - disse Isabela demonstrando preocupação.
- Eu te avisei que o lugar era meio estranho, lembra? – disse Henrique com um tom de voz sério
De mãos dadas continuaram sua peregrinação por aquela estrada de chão batido que era cerrada pelas copas das árvores. Fazia pouco tempo que o sol tinha se posto, a temperatura havia caído repentinamente e ambos estavam desprevenidos sem agasalhos. Além disso, a visibilidade estava prejudicada em razão da neblina que caia insistentemente e dava àquele trajeto um aspecto tenebroso.
Após terem caminhado por meia hora, Henrique avistou a modesta casa que procuravam. Ele esteve lá há uns dois anos, mas não se lembrava direito do caminho. Na ocasião, ele estava na companhia de um amigo e ainda por cima estava completamente embriagado. Abriu um leve sorriso de satisfação. Satisfação essa que Isabela não compartilhou, pois sua expressão lembrava mais um animal acuado por um predador.
- Pronto, pode relaxar, já chegamos – disse Henrique
- Vamos voltar, vai , estou muito apreensiva, fazia muito tempo que não me sentia assim, não estou com bom pressentimento – disse Isabela
- Mas nem pense nisso, agora é tarde, já estamos aqui e não vou desistir – disse Henrique
De repente, Henrique sentiu a sensação de sua mão ser esmagada por uma morsa, tamanha a força que Isabela a segurou
Quando se aproximaram, a porta da frente da casa estava entreaberta e em seu interior notava-se apenas a penumbra, que dava um ar sombrio e que deixava Isabela cada vez mais aterrorizada. Henrique tentava a qualquer custo disfarçar seu medo, mas já se via a ponto de sucumbir se caso Isabela tornasse a convidá-lo a se retirar daquele ambiente claustrofóbico.
Henrique tomou a frente e gritou – Seu Dantas!

O silêncio permaneceu por alguns instantes e em seguida foi quebrado por uma voz grave e poderosa, que demonstrava contrariedade.
- Aguardem um momento!
Prontamente os dois obedeceram à solicitação permanecendo estáticos em frente da casa. Em seguida, surgiu um homem alto, com um bom porte físico, que aparentava já ter certa idade e com uma expressão dura no rosto.
- O que querem? – disse o homem.

- Eu já estive aqui há um tempo com um amigo e o senhor nos atendeu, não sei se lembra? – disse Henrique.
- Meu amigo, eu atendo inúmeros clientes, não acha que me lembraria de você em especial, acha? – disse Dantas aparentando descontentamento.
- O senhor deve estar ocupado, não foi nossa intenção atrapalhá-lo, podemos voltar outro dia, é só o senhor nos falar a data – disse Isabela.
Dantas deu um suspiro longo e em seguida os convidou a entrar em sua casa.

- Sentem-se e fique a vontade, vou terminar de atender um cliente e já os atendo – disse Dantas.
Dez minutos depois, saiu de um dos cômodos, um rapaz magro, que tinha em seus olhos o brilho da esperança. Era o último cliente daquele dia. Henrique conteve seu ímpeto em pedir para que aquele rapaz os aguardasse e os fizesse companhia na volta para casa, pois o regresso também já o preocupava. O rapaz apenas acenou com a cabeça e saiu a passos largos.
Passado alguns minutos, ambos tornaram a ouvir aquela voz que agora vinha do interior do cômodo que eu rapaz havia saído.
- Entre! – Ordenou Dantas.
 - Vai dar tudo certo! – disse Henrique à Isabela, tentando ele mesmo se convencer de suas palavras.
Já no interior da sala, Henrique explicou à Dantas, o motivo pelo qual foram ao seu encontro. Disse que já sabia a algum tempo da sua fama pela região e que quando o procurou há dois anos, foi para acompanhar um amigo que estava com o coração partido e que através dos resultados obtidos pelo amigo, ficou motivado a procurá-lo.
- Modéstia a parte, meu trabalho é bem reconhecido por essas bandas, eu sei bem disso – disse Dantas todo convencido.
A partir dali, através dos elogios tecidos por Henrique, Dantas começou a tratá-los com menos rispidez, melhorando até o seu atendimento.

 Henrique por fim, pediu para que Dantas materializasse o pacto que ele havia feito com Isabela, pois acreditava piamente em seu poder.
Isabela e Henrique tinham inimigos em comum e eles em várias ocasiões tentaram separar o casal usando de todos os artifícios, obtendo um sucesso momentâneo em uma delas. Mas durante a separação, Isabela procurou uma cartomante que a alertou de todos os pormenores. Eles temiam passar por isso novamente e resolveram optar pelo pacto.
- Pode ficar despreocupados, o que eu uno nunca se separa. Mas isso vai custar dinheiro, vocês sabem? – disse Dantas
- Dê seu preço, dinheiro não é problema para nós – disse Henrique
- Por vocês não terem agendado, vou ter que cobrar um valor adicional, tudo custará R$ 2.000,00 ok? – perguntou Dantas.
Henrique tirou do seu bolso um bolo de dinheiro e em seguida completou com o que havia em sua carteira e entregou a Dantas
- Pronto, pode dar início – ordenou Henrique
Dantas foi até o armário, pegou um estojo grande e tirou do seu interior algumas tintas, seringas, agulhas e uma máquina de tatuar e as distribuiu cuidadosamente na mesa. Em seguida pediu para Isabela e Henrique esticarem seus braços sobre a mesa, para ele tirar um pouco de sangue e misturar com a tinta que ele iria utilizar ao tatuar seus respectivos nomes nos braços.
Isabela estava perplexa, não imaginava que iria tão longe naquela loucura, mas resolveu acreditar assim mesmo.
Dantas quando jovem atuou um bom tempo como tatuador quando morava na cidade, mas resolveu abandonar o ofício em prol do misticismo.
Duas horas depois, estava Isabela com o nome de Henrique em seu antebraço e Henrique com o nome dela no seu. Ambas eram bem pequenas e o desenho das letras até agradou Isabela. Mas Henrique nem sequer prestou muita atenção nelas, pois não via a hora de deixarem o local em razão do horário.
Dantas reforçou a garantia de seu serviço e os acompanhou até a saída.

Três anos se passaram e Felipe surgiu em frente à casa de Dantas gritando seu nome.
 Dantas o atendeu com seu mal humor habitual e logo soube que Felipe era amigo de Henrique e que era ele que havia estado com Henrique na primeira vez que o visitaram. Dantas se lembrou com facilidade, pois não era todo cliente que pagava uma quantia tão generosa quanto aquela que Henrique havia desembolsado.
Quando Dantas começou a se vangloriar devido ao seu serviço prestado ao casal, Felipe o interrompeu bruscamente.
- Senhor Dantas, eu já sei de toda a história e é justamente por isso que estou aqui. Quero que o senhor desfaça o que fez e lhe explico o porquê – disse Felipe.
Dantas arregalou os olhos e ouviu atentamente o que Felipe começou a dizer.
- Uma semana após Henrique e Isabela terem o procurado, ambos sofreram um acidente violentíssimo de automóvel. Isabela teve sua cabeça decepada e Henrique sobreviveu, mas praticamente vegeta, pois perdeu as duas pernas e um braço, por coincidência, o braço que lhe restou é o tatuado.
Além disso, Henrique já tentou o suicídio várias vezes e seu quadro vem se agravando seriamente. Ele alega que através dos sonhos que tem tido, Isabela está o aguardando para não romperem o pacto. – concluiu Felipe.
Dantas ao ouvir todas aquelas tristes novidades, olhou para baixo e disse com voz baixa.
- Lamento, não posso fazer nada. Eu os avisei que quando uno os casais, não consigo mais desfazer o pacto, portanto, essa situação vai perdurar.
Felipe ainda tentou convencer Dantas, mas não obteve sucesso, Dantas estava irredutível.
Seis meses se passaram e Henrique inexplicavelmente teve um derrame que o paralisou do lado do seu braço. Agora ele estava praticamente vegetando e sua família até pensava em proceder com a eutanásia, por presenciar tamanho sofrimento.
Enfim, chegou o dia da exumação de Isabela, tanto a família dela como a família de Henrique estavam presentes e para surpresa de todos ao abrir o caixão restava além dos ossos, seu braço, intacto com nome de Henrique tatuado.

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