terça-feira, 18 de outubro de 2011

Grande Amigo!

Respirou profundamente, limpou com as costas da mão o suor da testa e agarrou com suas mãos já todas calejadas a pá. Com o resto de força que lhe restava voltou a cavar a cova que já estava na altura de sua cintura. Sob a luz de uma enorme lua, sua única testemunha, vez ou outra, parava para descansar e o silêncio mórbido daquela mata o arrepiava de tal forma que o obrigava por previsão a fazer o sinal da cruz enquanto questionava-se em voz alta:
— Será que essa é a melhor solução?
— Não seria melhor eu ir até uma delegacia e explicar o ocorrido?
— O que me comove é que Mauro gostaria de ser cremado e o coitado está aqui, sendo enterrado nessa cova rasa, pelo seu melhor amigo e sem a presença de nenhum membro da família. Mas quem o mandou ser impulsivo? Porque não me deixou explicar que tudo não passava de um equívoco? Tinha que se exautar e vir armado com aquela faca. Eu não tive alternativa a não ser me defender daqueles golpes. Mas para minha sorte, meu Kong-fu estava em dia e ele não foi páreo para mim. Uma pena! Só na cabeça dele que eu, seu melhor amigo, iria trair sua confiança, arrastando asa para a mulher que ele penou para conquistar. A Lídia é um encanto, uma flor, uma diva, uma... Quer saber: foda-se você Mauro. A Lídia precisará de um ombro amigo e aí sim você terá razão. Otário!
E voltou a cavar com mais afinco.

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