sábado, 7 de abril de 2012

A esperança é a última que morre.


Olhou-se no espelho do banheiro e percebeu um vinco em sua testa. As olheiras estavam bem destacadas e suas pupilas baixas davam à sua face um ar de alguém que desistira de viver. Pensou em voltar para a cama, mas logo mudou da ideia. Resignadamente abriu o guarda roupas e começou a se vestir. Dirigiu-se até a cozinha e serviu-se do café frio do dia anterior enquanto observava pacificamente seu fogão coberto por uma mistura de óleo com farinha de trigo. Por optar em usar pratos e talheres descartáveis, não havia louças sujas. Quando abriu a porta que dava para o quintal, surpreendeu-se com que viu. Suas plantas estavam secas e haviam muitas folhas caídas pelo chão. Mas o que o chocou, foi ver seu cachorro que estava totalmente esquelético e que de tão fraco nem se quer foi capaz de levantar-se para dar seus típicos pulinhos de alegria. Além disso, seu quintal estava repleto de fezes do seu cão e o odor delas provocava tamanha ânsia, que ele conseguiu vomitar apenas a bile, graças a seu estômago vazio.  Sentiu-se tomado por um enorme desgosto, mas ao mesmo tempo, percebeu que ele não era assim tão inútil como muitos diziam. Suas plantas e seu cão dependiam dele para viver. Pensando assim, saiu pelas ruas pisando firme e cheio de dignidade, em busca de uma boa ração para seu cão.
 No caminho, não pode deixar de notar a surpresa estampada no rosto dos vizinhos, que receosos o cumprimentava friamente. Continuou seu trajeto e já chegando próximo à casa de ração, cruzou com uma senhora que segurava pela mão uma menina que devia ter uns sete anos. Essa menina o encarou com um profundo olhar. Ele até se sentiu invadido, pois ela parecia que enxergava todo o seu vazio interior. De repente ela abriu um lindo sorriso e ele não teve como não a comparar com um anjo. Repentinamente sentiu-se invadido por uma alegria tão grande que lhe deu uma estranha vontade de pular. A esperança havia lhe atingido em cheio. E assim saltou lembrando até uma bailarina. Saltou uma, duas e na terceira vez, seu pé torceu violentamente e ele desiquilibrado caiu chocando estupidamente sua cabeça contra o meio fio. O sangue que escorria tinha um vermelho vivo que contrastava com aquela face já pálida. E o espasmo acabou por deixa-lo com um sorriso que lembrava o daquela menina.  


  

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