segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Possante

 


Deu a partida. O motor rateou. Seu coração ameaçou parar, mas o carro funcionou. Pisou com vontade no acelerador e a fumaça preta tomou conta da rua. Sério, encarou o vendedor por alguns segundos, mas logo abriu um sorriso. De dentro do Chevette 1977 entregou para o homem o dinheiro embrulhado em um jornal e saiu devagar com o carro. Ao passar em uma lombada teve a impressão de o pára-choque ter caído. Seguiu em frente e constatou pelo retrovisor que nada havia ficado para trás. A cem metros do semáforo pisou no freio e percebeu que se não quisesse passar medo deveria frear com mais antecedência. No aclive, o carro quase cedeu, mas conseguiu subir em primeira marcha com a rotação alta, quase a explodir o motor.

Ao chegar em casa, a esposa estava à espera. Ele saiu orgulhoso do Chevette e entrou na casa.  Ela, apenas balançou a cabeça negativamente e voltou a varrer a calçada. Quando ele voltou, estava munido do velho equipamento de pesca.

- Vou passar na casa do Zé, do João e do Paulo. Não tenho hora pra voltar – disse ele.

- A mulher já conformada perguntou:

- Esse carro aguenta tanta gente?

E a imagem do aclive veio imediatamente a sua cabeça.

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